Na parada de Ônibus

Hoje estava parado, pensando na vida, analisando as figuras estranhas e cansadas ao meu redor...Eram muitas caras esgotadas, suadas, indo ou vindo sabe-se lá para onde.Duas garotas me deixaram mais atento, teriam no máximo uns 12 anos cada...Sem dúvida seriam meninas de classe menos favorecida, mas estavam dentro do possível exibindo os modelitos ditados pela moda dos que usam grifes...Enormes mochilas cor-de-rosa, imitações quase boas da Hello Kitty, Tops mais sensuais que o necessário, gigantescos tamancos, calça Legging, ou seja, uniforme padrão...Os corpos estavam dentro da permitida rigidez da gravidade que favorece às adolescentes, até passariam por 18 anos...Iniciam a vida quase adulta pulando etapas e nunca mais conseguem recuperar.Mantinham uma conversa tão intensa que não resisti, e é claro, fiquei ouvindo.A mais extrovertida, falastrona , curvilínea e alta apontava para a própria barriga (que quase não existia) e se dizia, num tom bastante alto e incisivo o quanto estava “horrenda de gorda” e profundamente descontente com sua aparência - Tão absorto estava ao papinho frívolo que perdi meu ônibus – Elas ficaram criando teorias sobre suas aparências sofríveis e em completo descontentamento com sua condição .Deixei-as em seus devaneios e entrei no primeiro ônibus que parou, mas segui pensando...As de 18 anos queriam ter as benesses da rigidez física de quando tinham 12 anos...Quando ainda não tomavam pílulas, quando seus seios naturalmente estavam em pé, quando celulite era apenas uma dúvida, a de escrever com “C” ou com “S”?

Sou moreno, tenho cabelos pretos e achei que ficaria lindão se tivesse olhos verdes...Comprei lentes Bausch & Lomb, como dá trabalho ficar bonito, todos os dias tinha que ferver as lentes, até que esqueci delas e acabaram cozinhando – que drama – Depois quis ser loiro, fiz luzes, quando cansei, raspei bem curtinho, ai deixei crescer longas madeixas – trabalhão – Muita escova, musse, hidratação, banho de creme....Credo raspei...
Somos descontentes por natureza. As magérrimas se acham gordas e ficam mais magras ainda e morrem de bulimia ou anorexia, os gordos, ops...Nome proibido, Obesos é o politicamente correto, tentam de tudo para ficar no padrão ditado pela sociedade...Tomam um cogumelo milagroso, comem um cipó que muito promete, muitas anfetaminas...Que tem efeito efêmero e passageiro e com tanta agressão ao corpo, morrem de alguma cardiopatia.
Os gordinhos tem cara de bonzinhos, sempre risonhos, os muito magros ficam com cara de doentes e se negam os prazeres da vida.Será que existe a justa medida? Será que nunca vamos ser felizes como somos? Os baixinhos queriam ser altos. Os grandões tem dificuldade de encontrar sapato e roupas com facilidade e queriam ser menores pois, assim teriam mais possibilidades.Ser tratado no diminutivo irrita os menores, por outro lado, os altos sempre são escalados para apanhar o pacote no ponto mais alto da prateleira, regularmente carregam mais peso porque todos acreditam que por serem grande também são mais fortes - ledo engano – O ideal seria encontrar um meio-termo
Ricardo Blomberg